Que CEO, que Seafood

    OLÁ, PUSSY JANE!

    SEI QUE ESTOU UM POUCO ADIANTADO,
    MAS JÁ ESPERO AQUI EMBAIXO… rs
    UM BJ

Ah, esse cara sim! Alguém com a sintaxe digital impecável só poderia ser um gentleman. Com certeza do tipo que abre a porta do carro (e um belo carro; afinal, o rapaz era CEO – Chief executive officer – de uma grande agência de publicidade). E aparentemente, a julgar pelas marcas que o compunham, bem sucedido: relógio da Oakley avaliado em uns U$15.000,00, camisa Ralph Lauren bem passada, carteira Victor Hugo…

Pô, Pussy Jane! você está parecendo uma Maria papa-branding!! Onde está o seu idealismo feminista? Cuidado para não deixá-lo muito de lado porque você já sabe mais ou menos o que esperar de um homem, não sabe? Apesar da eloqüência via sms, que não é grande coisa; e do fato de ser CEO, que também não sinaliza caráter, homem é… homem. Ah, não!! Não deixaria seu espírito de porco acabar com mais aquele encontro!

    ESTOU DESCENDO EM ALGUNS MINUTOS… BJS, PUSSY

Pussy Jane já estava pronta há tempos, tamanha a ansiedade, mas decidiu fazer um suspense. O CEO não perderia por esperar: ela estava com uma incrível saia de bandage super justa, que fazia milagre a qualquer silhueta, deixando o quadril nem vulgarmente grande, nem cabisbaixo; afinal equilíbrio era tudo, sempre. A maquiagem impecável, Dior pra cima; perfume Lancôme; as unhas esmaltadas by Chanel, sapatos Louboutin…

Esperou mais uns 5 minutos e, claro, antes de descer, deu uma olhadinha pela janela de seu apartamento.

Nossa! O CEO tinha mesmo um Honda último tipo, e a estava esperando do lado de fora, encostado no capô. Sim, o CEO abriria a porta do carro para ela!!

Pussy Jane desceu sentindo-se a primeira dama.

Cumprimentaram-se. Ele estava inquestionável: camisa Armani, blazer Ralph Lauren, ajeitando o cartão de crédito Visa Platinum Exclusive na carteira Victor Hugo enquanto, encantadoramente, abria a porta do carro. Ele era incrível!

Pussy fez questão de se sentar vagarosamente para que o CEO tivesse tempo de reparar na sua… na sua saia de bandage da mesma marca do blazer Ralph Lauren que ele usava.

E seguiram rumo ao restaurante, conversando sobre planos de mídia, Philip Kotler, cases impossível que ele havia solucionado e, de brinde, Pussy até pôde falar sobre sua carreira promissora como redatora do Super Center, a enorme loja de departamento onde trabalhava, e sobre sua vontade de ser escritora. Lógico que não deu muita ênfase a esse tipo de assunto, porque o CEO podia achar pretensão sem importância. O cara devia estar pensando no próximo prêmio que sua agência abocanharia… Quem era ela perto de tudo aquilo? Mas a conversa tinha sido super agradável e Pussy já estava quase apaixonada.

O restaurante era finérrimo. Ele fez questão de puxar a cadeira para que ela sentasse, ofereceu-lhe o cardápio, foi de uma gentileza improvável…

Mas, em triste contrapartida, aproveitando o momento em que Pussy Jane estava ocupada calculando qual item do cardápio poderia ser menos prejudicial ao seu traseiro, em termos de caloria; quando uma das hostess do restaurante passou de saltos bem altos (tanto quanto os Louboutin dela), um saia não tão justa, e nem uma bunda tão trabalhada, o CEO deu uma bela olhadaaaaa…

‍P@#$#@@@!!!! Será que todo CEO era idiota ou estava sempre em busca de novas oportunidades de mercado? Será que homem não tinha senso do ridículo? Ou melhor, não tinha vergonha de fazer a sua convidada passar ridículo? Será que todo homem era CEO (canalha, estúpido e odioso)?

Sentiu-se uma idiota em sua saia de bandage Ralph Lauren, em seu quadril de medidas harmônicas lapidado com horas e horas de exercício físico.

Nem reparou se a bunda da hostess era maior ou menor, mais ou menos interessante; e nem o CEO deve ter reparado direito na saia dela, que era de liquidação. O idiota jantava no restaurante mais caro da cidade e não devia saber diferenciar buchada de bode de filet mignon. Será que os caras faziam de propósito: travestiam-se de perfeitos e quando as mulheres já estavam de quatro (quase literalmente), faziam questão de diminuí-las, torná-las descartáveis, vulneráveis, reduzidas a um traseiro e nada mais?

Pussy Jane engoliu seco. Teve ímpetos de levantar e ir ao banheiro, só para que ele pudesse olhar melhor a bunda dela, e constatar que era melhor que a hostess… Filho da mãe!!

E o CEO voltou-se para cardápio como se nada fosse…

– Pronta para pedir? Hummm… Seafood? Que tal?

– Seafood, claro! Pussy Jane adorava seafood…

E ela fez questão de pedir o prato mais caro, na verdade dois.

E também pediu uma garrafa do vinho português mais seafood da carta, mesmo não bebendo uma gota de álcool.

– Eu adoraria um Saint peter à chatô rouge, mas sem o molho, sem a manteiga, sem os aspargos da Patagônia, sem as batatas de Provance. E pode me trazer, por favor, essa salada normanda, mas sem as trufas negras, sem os croutons de alho poro irlandês, sem as amêndoas carameladas; só o alface mesmo… Ah, e também já vou pedir a sobremesa: Tarte tatin com uma bola extra de sorvete de creme italiano, e 3 cafés especiais. E se puder, um daqueles licorzinhos digestivos para encerrar. Meu pedido é só…

O CEO ficou um pouco espantado, mas estava mais interessado em medir os traseiros do local e talvez em levá-la bem alimentada a algum aftermidnight depois do jantar. A cada olhada que ele dava para os traseiros alheios, Pussy Jane jogava um pedaço de comida para baixo da toalha de mesa.

Ao final do jantar, ela não havia comido quase nada, mas estava estufada, estafada e p#%%$ com as bundas alheias que teve que engolir, apesar da sua saia de bandage Ralph Lauren…

Quando a conta de uns R$1000,00 chegou, ela fez questão de apenas um comentário.

– Super barato, pela qualidade da comida, não é? Seafood de primeira…

O CEO concordou, claro; afinal, a carteira dele tinha que fazer valer o Victor Hugo. Pussy Jane adorou vê-lo pagar cada centavo do que ela não havia comido, era questão de honra.

Na hora de irem embora, previsivelmente, ele sugeriu que fossem para sua cobertura triplex, que tinha uma vista maravilhosa e eles poderiam jogar conversa fora, discutir targets, logística, e até um pouco de redação publicitária se ela quisesse… Pussy Jane até pensou em ir para o triplex do cara só para provar que o traseiro dela valia muito mais a pena que o da hostess, da garçonete, da adolescente e de sua avó, da mesa ao lado…

Mas aquele discursinho que ele mantivera a noite toda, de cara educado, de caráter, de gentil, bem sucedido, com MBA e carro importado, blá blá blá começou a enjoá-la e a soar tão tão… fake… P$#@###$ Pussy Jane, o cara era publicitário, o que você esperava? Ah, talvez um publicitário com mais missão e valores…

Pussy Jane quase pôde vê-lo com um bando de amigos de mesmo target tomando cerveja e discutindo traseiros em um happy hour qualquer. Quase pôde adivinhar que, previsivelmente, todos os jantares do CEO acabavam em seafood.

– Sabe o que é querido? Acho que seafood não me cai muito bem… Melhor você escolher outra idiota no cardápio.

E Pussy Jane preferiu chamar um táxi que a levasse a seu próprio apartamento, que não era triplex; mas era dignamente seu.

Ele que CEO… Que seafood… E que pagasse aquela conta: porque sua saia de bandage… Essa não tinha preço…