Sempre se começa pelo primeiro. O primeiro passo, o primeiro medo, o primeiro sutiã, o primeiro namorado e… o primeiro de abril…
Sempre existe o primeiro primeiro de abril na vida de toda mocinha que crê em contos de fada. Não que esse primeiro de abril fosse o seu primeiro de abril inaugural, mas todos pesam como se fossem os primeiros (e olha que já possuía uma bela lista…).
Calma lá também né, Pussy Jane!! Primeiro de abril não e nenhum onze de setembro. Dane-se que o cara tenha namorada, o problema não é seu, é dela… O primeiro de abril é muito mais pra lá do que pra cá! … (longas reticências)…
Opa, opa, nada disso! Querendo amenizar pra quê? Foi empate técnico, meu bem… Nada de dois pra lá, dois pra cá, não; o samba tinha sido bem outro. Namorada que é namorada já está acostumada a ser corna, o pior mesmo tinha sido para Pussy Jane e suas ataduras fêmino-capitalistas de pagar as próprias contas e não depender emocionalmente de nenhum macho acarteirado… Ela, com todo seu discurso de dignidade e auto-estima; ela mesma, caíra no conto do vigário.
Também, o vigário era advogado… Dá até pra entender. Um homem de direito, hein?… Sem dever algum. Por isso o país estava naquela m…@#*.
Se advogado já era assim, imagina juiz… Sistema judiciário!? Que piada!
Primeiro ato: o rapaz é super bem educado, a encontra casualmente em uma cafeteria de etiqueta de um bairro nobre. Está lendo “O dever do advogado”. Humm… Interessante. Um homem de princípios. E como se não bastasse “o dever do advogado” , toma a iniciativa de lhe pagar um café. Humm… Um homem de princípios. Um homem serio. De quem era mesmo aquele filme? Pussy Jane teve vontade de puxar o assunto pra esse lado, mas que argumento teria para falar de “Um homem sério” para um homem sério? Soaria uma cantada meio pretensiosa ou ingênua demais. Como saber se o cara queria parecer um homem sério, de fato? Ou como saber o que ele acharia quando soubesse que ela o identificara com o título do filme? Melhor guardar a dúvida para o Google, mais tarde.
Segundo ato: conversa vai conversa vem e pronto, emails e telefones trocados, mais um convite pra jantar. Restaurante da moda. O homem serio, além de bem vestido e galanteador, tinha bom gosto. Praticamente um Humphrey Bogart.
Qual era mesmo o nome do filme em que o ator chamava Rick, e era dono de um café? Pensou em perguntar, mas vai que o advogado a achasse muito antiquada ou nem soubesse nada sobre Humphrey Bogart… Seria decepcionante.
Ué, Pussy Jane?!!… Vc pode esquecer o nome de um clássico do cinema e o rapaz de direito não tem o direito de desconhecer Humphrey Bogart?? Que @#!//@ é essa Pussy Jane?! Ponha-se no seu lugar! Ou vai atrás de um critico de cinema pé rapado que, no máximo, vai ser capaz de pagar uma rodada de cachaça vagabunda, em copo de requeijão!
Nossa, também não é pra tanto! Só queria que todos os homens do mundo conhecessem Humphrey Bogart… pelo menos naquele filme…
Play it again Sam … Ah!! As time goes by2 era o nome da musica! Ah, Casablanca era o nome do filme! Pronto: Pussy Jane já estava apaixonada…
Terceiro ato: a mocinha espera impacientemente o nobre cavalheiro… Tchan tachan tachan tchan!! É o dia do jantar. Já revisara mentalmente centenas de vezes a cena do primeiro encontro: as taças de vinho, o buquê de flores (eram rosas vermelhas – mas calma, ainda não cederia), um beijo apaixonante… E talvez ele até tirasse um anel de brilhantes do bolso. Talvez ele fosse juiz!…
Mas dez, vinte, trinta, quarenta minutos e nada. Será que acontecera algo? Quis ligar para o rapaz e ver se tinha havido algum problema, mas o que Humphey Bogart pensaria sobre isso? Cinquenta minutos e … uma mensagem: so sorry, estou superatrapalhado aqui no trabalho. Marcamos outro dia ok?
So sorry???!! Quem ele estava pensando que era? O Humphey Bogart???!!!! Unbeliveble, unforgetable… Tinha tomado um bolo de um aspirante a Humphey Bogart que ela mal conhecia. Um advogado do diabo!! O advogado do diabo? Ele não chegava nem aos pés do Jonny Rivers… Opa, ou era Keanu Reeves?? Keanu Reeves, é lógico, Pussy Jane…
Keanu Reeves era o nome do ator…
Play it again, Sam. Mais um primeiro encontro que terminaria sendo o último. Ainda bem que num tinha se deixado seduzir pelas rosas… Que rosas Pussy Jane!? Volta pra Casablanca que lá é seu lugar.
Último ato: dias depois recebe-se uma mensagem de um número desconhecido, soletrando-se “a namorada”, intimando Pussy Jane a manter as devidas distâncias, as tais “distâncias essenciais a qualquer moça de moral e caráter irrefutáveis”… (a @#!!!## tinha usado exatamente essas palavras)… Só podia ser brincadeira…
Opa, opa… Are you talking to me? Essa era a frase do … quem era mesmo o ator daquele filme, o taxista?…. Hummm… Enfim, só podia ser brincadeira: ser repreendida pela namorada do advogado do diabo…Vulgo, a noiva cadáver… Só podia ser primeiro de abril. Só que não era. Era mesmo só mais uma mentira, a mentira de um homem de direito. Play it again Sam…
*Play it again Sam: frase referente à cena de Casablanca, em que Humphrey Bogart pede ao pianista Sam para tocar As time goes by, em memória a seu romance com a mocinha da história, interpretada por Ingrid Bergman. Casablanca é muito mais que isso. Vale conferir.
*As time goes by: música tema do filme Casablanca