Vejo rostos

Vejo rostos, de todos, iguais

Ou será o olho, que uso um só?

À visão única, achatada

Então, os iguais, os vejo divisão

Ou são os tantos desiguais que se fazem máscara comum?

Vejo-os iguais: pupilas, almas, lágrimas,

Expressão…

Expressão?

Pressão: assim reprimem-se

Impressiona o quanto são iguais, aos montes,

Quantos são?

Ladeira abaixo dessas ruas que desandam e

Derramam, tal formigas, a multidão

Devem ser múltiplos de um: fotocópias

Um amontoado de mesma matriz

Sem raiz

Fotofóbico:

Serei esse, olho anômalo, que enxerga, espelho,

reflexos de um eu apático transformado em multidão?

Contaminei

Formigam-me perspectivas:

E vejo só um exército de iguais

E vejo, só, mesmo cego, um exército de guai

Guai

Vejo só o espelho

Em cada qual desses múltiplos iguais

Guai Guai Guai

Eco…

Ecco:

Ceguei

E, de repente, o que houve do real?

O que se ouve? O que ouviria devir?

Existe?

Formigam-me, humanos, os iguais, pela pele

Pés ou patas?

Perseguem-me

Empatam-me em significado:

Somos insignificantes

Por isso impactam: compactam-me

Pactuam da mesma visão divisão cega a olhos vistos,

Vazados desse olho meu

Que incide em única realidade: dos múltiplos todos iguais

Uccide…

Sul incide

Suicide…

Então os vejo, estampas,

Em série

Cobrindo-me a pele

Vedando-me

E, vencido, rendi-me

Vendido,

Passei a ver um olho só

Passei a sê-lo, sem qualquer legitimação

Passei a vê-los, todos os iguais:

Rostos, restos, corpos…

Letais

Formigas da carne

Esses todos iguais

Patas pela pele das quais, cego,

Não consigo desvencilhar

E que me levam: carregam-me nas costas

Nascosto sigo

Desses, e como esses: todos iguais

Ilustração: Maria Lúcia Nardy

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