BowBow… Bow… Bow……..Bow

Bow, bow, bow… Era batalhão… De um marchar incessante, bombardeioaos ouvidos. As linhas amarelas de batalha, paralelas, transversais, desenhavamo palco cênico-sonoro, pontilhado de sons estridentes de atrito-borracha,perfurando o espaço que, pouco a pouco, furtado quase totalmente de seus vazios.

Bow, bow, bowww. Borracha. Boraaacha. Boorrachaaa.

Sinfonia rabiscada, misturando sílabas sonoras que quasedeclarativas, letras, palavras, inteiras frases: traço, ponto, salto, pisa,passo, borracha, passe, alça, lança, bow, pinga, pula, quica, corre. Borracha eBow! Bow rracha! Bowww…. Bowwww… Booww.

Um traço, um ponto, uma linha, borracha, escreve-apaga, costura,traceja, traqueja, pula, vai, grito, fura, corre, corta, pega, manda, bow, bow!Ponto! Palma! Palmas! Bola! Bala! Cuidado!!!!

Boww!!!

Se pudesse fechar os olhos, ignorando o aviso “Cuidado!!Bola!” e atentar apenas à sinfonia das borrachas… Se pudesse calar por um momento o estado alerta do peito oco quase-sempre, que não peito, só cabeça de “Cuidado, bola!”… Se pudesse esquecer de Newton e os trajetos retilíneos calculados ou deixar de lado a inércia do banco de reserva e as reservas amalgamadas de medo, derivadas de não ações e reação… Se pudesse desligar-se do banco das reservas e do tempo em toda sua lei… Se só pudesse ouvir a sinfonia de borracha, tinha certeza que a encontraria ali: a quadra do sempre, indelével e ensurdecedora, escrita de bola borracha e bow!

Se pudesse fechar os olhos às ameaças de bala-bola, bólido, que vinha e viria de qualquer lado, atacá-la com as certezas de que borrachas se apagam e já não são as mesmas as borrachas de sola de tênis.

Cuidado! Bola!

As solas de tênis de quadra de borracha não existem mais….Mas aquele som… A sinfonia de borracha que não se apaga. Aquela sinfonia que lhe tomava em peito, pouco ligava aos cuidados que teria que ter com os bólidos ou as borrachas de apagar histórias. Seu tênis também era borracha e sabia ter escrito cada linha daquela quadra. E se fosse o mesmo tênis?

A sinfonia das borrachas Bow bow bow e ela quase podia ter certeza de ter escrito as linhas da quadra, em amarelo , branco, azul e cor de peito de borracha viva. Borracha é de carne? Aquela era… Como era doída.

Pula, vai!1, 2, 3 arremessa! Vai!

Arremessa vai!! Era o canto das borrachas, o canto vivo do peito que ficou escuro escuro de linhas coloridas. Tantas linhas coloridas, dos trajetos de borracha, desenhados de sola e bola, tanto o tempo… Todo o tempo as borrachas estavam cantando no peito e ela, ali, fingindo-se reserva, ou reservando-se a fingir doer um peito que nem tinha, que não lhe pertencia: era de borracha. Duro e tão assertivo. Um peito que no fundo, não tinha reserva.Era aberto ao desenho do tempo que contava , indelével de borracha. Elástico, seguro, senhor de si. Seu peito era do tempo, e fazia tempo ela nem mais lembrava. Mas e o marcador?

Arremessa vai!! Lança mão de lance livre e dá passagem às linhas de destino que tão cedo, você menina, tentou desenhar. E desenhou! Mesmo tendo crescido  e desdenhado do tempo que não passou, ficou só ali, esperando, na reserva, que você ouvisse as notas de borracha e reconhecesse ali, no chão da quadra, o próprio peito.Inexorável, deitado de listras em toda quadra de caminho a toda sorte de jogadas, na quadra de borracha.

Bow Bow Bow

Arremessa vai! Como? Como pôde ter apagado a sola-saudade do tênis voador? Vê! Olha aí! É o mesmo! Ouve só a quadra de borracha e sal, que arde a sola.E assola qualquer reserva… Assalta o peito bólido! Se lança, vai!

Bow bow bow

Mas era a bola ou era o peito? Era a bala ou o tiro!? Qual a borracha?

Arremessa vai! A quadra é colorida! Ainda é colorida!!

E corre! Olha o tempo marcador!  A bola é bala e bate bow! Pisa! Borracha: 1,2, 3 passa laça caça taça raça

Corre! Olha o tempo: marca a dor!

Marca, e dor! Então corre da reserva , usa o tempo de borracha que vai e volta e lança!  Se espada o peito batedor!

Falta! Falta e falta pouco… Falta nada

Olha o tempo de borracha que assola e corre a bola que a sola pode durar só segundos e de bola em bola de passe em passo do tempo que era todo, se desfaz

Cuidado! Corre a bola Bow

E foi em assalto à sinfonia das borrachas,  arriscando a risco um desenho novo-velho que tinha certeza já estava lá. Foi num salto do peito, um pára-peito de borracha, que a menina dos pés que não cresciam, só mudavam de tamanho e nem de sola.. a menina dos pés de borracha, só solida, bólida, gélida, em um gesto que não foi só seu mas de cada batida bow do coração da quadra de borracha que não se apagava, cada batida bala que lhe perfurava o coração do tênis de infância, que era o mesmo que riscava e arriscava cada passo fora-dentro das linhas de amarelo-azul-vermelho… a menina correu os olhos fora da reserva, em  direção ao bow da bola que vinha bólido transformá-la alvo no banco que só fazia sentido ressentido e que no fundo queria que ela saltasse, tão alto quanto o tempo marcador, e arriscasse caminhar inventada uma quadra riscada do seu trajeto invisível, que tinha certeza, estava lá e lhe pertencia, bem ali:  no risque rabisque da sola menina do sapato de voar… O banco de reserva já sabia..

Cabeça!!! Cuidado!!

E a menina perdeu a cabeça antes que a bala bola tocasse-lhe a caixa-crânio das reservas. A bala bola lançada do tempo marcador tocara-lhe a alma que era da mesma música das borrachas: Bow bow bow

A menina agarrou a bola-bala com uma sua última esperança, de um último lance, de uma última chance de vencer o marcador, já esgotado, resgatado das memórias de um tempo que olha só… sempre esteve lá no bow bow bow da quadra que ela já havia desenhado de destino. Como pôde esquecer? O marcador esgotado de todo o tempo ter tentado avisar, agora , o marcador só podia torcer.

Arremessa vai!

Olhou o marcador! Era ele quem ordenava: arremessa vai!! Era o tempo, após tanto não tempo, era o tempo quem dava espaço para que ela BOWBOW BOW

Olhou o marcador e o tempo contava zero, tentando fazê-la entender que nunca existira o fim do jogo.

O marcador convencera-se há tempos e a tempo, de que ela já havia vencido: porque estava escrito bem ali, nas linhas de borracha da sola de seu tênis que não crescera, mas de um tanto, por acreditar que existia um tempo, encolhera-se, acuado no banco de reserva.

Não! Nenhuma reserva! Reserva de que? O tempo corria agora, zero, corria agora, borracha, indicando que não havia inícios ou finais de partida, apenas o sempre movimento, que ela dali daquele bow de bola e bala e peito e sola e cala e grita e bow.. daquele bow bow bow, o tempo corria agora ela devia arremessar-se.

Tinha sido a sinfonia de borracha da bola, a bola no peito, abala, a cola na garganta, a sola, o nó que a amarrava à quadra e as borrachas indeléveis, ao tempo não tempo que marcava o marcador, e mancava, do mesmo pé que sua sola que acreditava serem, as linhas da quadra feitas para deixarem de existir. O mesmo tempo que não tempo, ela devia descobrir, era feito de existir e resistir, re-existir, de insistir de revestir: o tempo de borracha.

Tomou a bola que era o peito, o peito todo  de cada uma delas que ela mesma tracejara havia tanto tempo não-tempo na quadra não quadra, naquele jogo… Só jogo: o marcador gritava que a vida não era feita de derrotas… Só jogo.

Tomou a bola das mãos do tempo, em uma lance memorável, desses que nunca deixam de existir porque feitos do que se deve ser sempre, sem reservas…  Olhou o marcador, que sorria. Tombou o peito em arremesso. Jogou a bola assim, a quem quisesse tomá-la, em direção ao tempo desenganado, desacreditado e absolutamente satisfeito: ela entendera, por fim, a o indelével de inventar o tempo.

Alguém pegou a bola, a bala, a cola, o nó da garganta que grudou no peito e ali ficou, escrito nas linhas da quadra de borracha.

Um apito trouxe-a de volta à sola encolhida, ao banco de reserva, ao futuro e ao passado que, de presente coubera em um relance marcador, e lhe dera o tempo na palma da mão.

Arremessa vai!

Olhou o marcador… O marcador sorria, e sorria… Desde o começo, reconhecera-lhe a sola de borracha. Podia dizer sem reservas que eram da mesma espécie, da mesma cola de lançar-se. A moça que menina da sola e só, de bala e bola, já sabia de que era feito seu peito. Sim: era e tinha sido, em tempo, todo o tempo, de borracha.

Bow bow bow

Veja mais

Criança-me

Criança-me

Queria fossem brinquedos, essas peças que articulo, desengonçado, com as mãos. Queria que me inspirassem alguma, formato racional; o melhor encaixe, eureka ou esses tipos de insight. Queria fossem...

ler mais
Sobre os girassóis e o tempo…

Sobre os girassóis e o tempo…

Sobre os girassóis e o tempo… Giram Sóis, só solitários, giram em vertigem, Tal a Terra Tal em Guerra Tal em fuga ou fogo… Girassóis queimam como o tempo Com o tempo... Sobre os girassóis, pairava o...

ler mais
A algum ponto da partida

A algum ponto da partida

Voltar ao lugar de início. Não é esse o instrumento? O que te soa quando notas, já distante, de lá longe, o imenso percorrido? O que te escorre face quando usa os olhos em ré?  O que te sua: lágrima...

ler mais
As asas do mar

As asas do mar

Um ser que usava asas, parado frente ao todo mar. Extasiado ou reflexivo; imóvel em seu despertar às águas incalculáveis. Alguém que usava asas (isso estava claro), mas abstinha-se delas, recolhidas...

ler mais
Cheiro de Reich

Cheiro de Reich

O mundo cheira a Reich Mais que haxixe E chora chorume Enquanto vela, afogado, Restos de um bem que não há E nunca ouve, Sem sentido, Ressentido de vender-se Já vencido, aos mesmos erros Recidivos...

ler mais
Às vésperas do fim do mundo

Às vésperas do fim do mundo

Tinha-me como companhia… Num dia comum, desse meio de semana, desses dias que se quer evitar viver. Sim, já quis evitar viver. Quem não?… Quem não desistiu-se a alma, num dia desses, de uma quarta,...

ler mais