A vida segundo…
A vida segundo os teóricos é plana,
Um plano: explicável, concebível, formatável, executável
É limitada, assim como os teóricos
Plena?
Só uma hipótese
Mas a vida não é segundo
A vida é primeiro
Não pode ser segundo terceiros ou quartos,
Tão claustros
A vida não pode seguí-los
Não pede seguros
Nem clama receios
A vida perde e ganha, chama e cinza
A vida reclama
A vida é…
E isso não se soluciona
A vida era
E isso não se equaciona
A vida será…
Será?
A vida é segundo segundos
E isso basta para sê-la
Isso resta
Só isso resta: a vida segundo a segundo…
A vida-segundo
A vida segundo os teóricos é tola
Obedece a matemáticas do vir a ser
Tão filosófica e conceituável
Algorítmica
Decifrável, fracionável
Desmontável em estrategemas
Servil às vaidades dos teoremas de vender
Palpite, ideia
Genialidades de púlpito
Mas, e um coração teórico: palpita?
A vida segundo os teóricos
Quase nem é vida
Transplanta, operaciona, raciocina
Mas não pulsa
Sabe…
Palpita, mas nunca pulsará
E é triste vê-la assim, esforçando-se
Corroendo-se, doendo-se
Entregando-se
Querendo ocupar o púlpito que jamais lhe caberá
Ela não palpita: só palpita
A vida, em teoria, não é vida
É morte
A vida-teoria não existe
E tão, frágil, não resiste,
Sequer um segundo
Sabe…
Calculando aqui:
Quanto custa um pulso?
Algum palpite?
Uma hipótese?
Qual a metodologia?
Sabe quando bate um pulso,
Ou quando um peito respira?
Isso basta à teoria
Para fazê-la pobre
Insignificante
Para trazer o homem ao seu lugar de direito
Palpitar: nada mais
E um último segundo:
Creio cegamente em Deus,
Parcialmente na ciência
E resolutamente na capacidade humana de contrapô-los,
transfigurando-os em significado e os reinventado contrários a sua própria essência:
Friccionando Deus, Ciência e homem
Assim, ficcionando uma batalha que não há
E por isso, talvez, nos sintamos (e sejamos) tão derrotados
Seja como supostos criadores, seja como pretensas criaturas