Or Well or Hell, George Orwell?

Well or Hell… Uma questão que, enquanto autora e personagem, ambas de uma raiz muito próxima e compartilhada, tem nos transbordado o espírito crítico, açoitando-o e nos aguçando a criatividade (desses masoquismos que acometem quem escreve) é o reforço midiático à pandemia e aos mecanismos de controle. Amparado, de certo, por dados da realidade (isso é inegável) mas, ainda assim, um tanto desmesurado em discurso. Um discurso com base na dor, vendida de forma muito barata, até gratuita (o app covid-19 que Pussy Jane baixou é de graça). Um discurso vulgar e nada inofensivo.

Falo aqui em nome do meu espírito crítico, que sempre pende à uma simplificação  irônica da realidade, mas também como alguém que consome esse discurso e não está imune, nem ao discurso, nem à doença. Alguém que teme por si e pelos demais e, aí, não apenas pela doença, mas pelo consumo do discurso.

Os apps de rastreamento da doença (contact-tracing) são uma realidade, endossada pela grande mídia internacional e, que, consequentemente, vestindo-se das opiniões de celebridades e afins em seus performances de varanda #homehome, terão, provavelmente, apoio da maioria da população global. E isso talvez implique em muito mais do que rastreamento da doença. Hoje, somos dados: basicamente, esse é nosso valor. Então, um tanto irônica e complotista, como todo autor deve ser, não consigo não pensar no controle de massa.

  • só com o “show” One World together at home (esse nome mete medo…) WHO arrecadou quase 130 milhões de dólares (*número apresentado hoje na Rai News 24). E sem The Who nenhum. Afinal, ninguém mais conhece Tommy, e Pinball wizard talvez tenha se tornado politicamente correto; virado app barato também… Que WHO milionário é esse? A Organização Mundial da Saúde…
  • Não me arrisco a escrever linha, mas Pussy Jane, como personagem neoliberal anárquico e, acima de tudo, ficcional… Ah, Pussy Jane não vai muito com a WHO. Nem Pussy nem Trump; mesmo que Pussy também não vá muito com Trump.
  • E mesmo que Pussy só tome (afinal os niilistas, mesmo os personagens, no fim, sempre tomam); ainda assim, Pussy só ouve Tommy… Tommy é outra história…

Então, impossível não lembrar George Orwell e seu 1984 que, em 1949, parece descrever nosso cenário de sociedade vigiada, que conseguiu transformar Big Brother em sessão fast food e publicidade barata, tornando Orwell praticamente invisível. E, quando visível, sujeito à crítica, elogio ou canonização, frios, muitas vezes distantes e assépticos, nos bancos da Academia. Nosso 2020 poderia ser 1984, se não parecesse pior.

  • Links para saber um pouco mais:

https://www.google.com/amp/s/revistagalileu.globo.com/amp/Cultura/noticia/2018/06/8-fatos-sobre-george-orwell-autor-de-revolucao-dos-bichos-e-1984.html

https://www.google.com/amp/s/brasil.elpais.com/brasil/2017/02/21/cultura/1487699424_853146.html%3FoutputType%3Damp

https://www.youtube.com/watch?v=eFvuzu8vtY8

https://www.theguardian.com/books/2009/may/10/1984-george-orwell

Também impossível não lembrar trechos de Guy Debord e sua Sociedade do Espetáculo: “o espetáculo se apresenta como a própria sociedade, como uma parte da sociedade e instrumento de unificação. Enquanto parte da sociedade, é expressamente o setor que concentra todo o olhar e toda consciência…” ou “… ele (o espetáculo) não é nada mais do que a economia desenvolvendo-se para si mesma”…

  • Mais Debord?

https://www.youtube.com/watch?v=q0AJ66Rb-1o

E ainda, em referência à melhor cultura trash, impossível não lembrar a cena de um filme que assisti aos 5 anos de idade e que me pareceu profético à época, nem sabia o porquê: Halloween III, a noite das Bruxas (da Universal). Do que me lembro do enredo (e isso deve ter uns tantos de distorção que a memória permite) a população era incentivada a comprar máscaras de abóbora a serem usadas em frente a TV na noite de Halloween. Não lembro muito bem do filme, mas jamais esqueci a associação entre ficar em frente a TV e ter o cérebro derretido usando a máscara de cabeça de abóbora… Isso foi definitivo em minha vida, antes mesmo de 1984 (o filme é de 82) e de entender minimamente que nasci fazendo parte da Sociedade do espetáculo. O filme é profético… Essa cena é 1984 e 2020 +. De colocar na cabeceira…

  • Links sobre Halloween III (Universal):

https://www.youtube.com/watch?v=u2D0kDFKaxE

https://bocadoinferno.com.br/criticas/2015/10/halloween-iii-a-noite-das-bruxas-1982-2/

https://www.youtube.com/watch?v=5KtYCik5fEM

Então, nesses dias de 2020 1984, espetacularizados e trash, vale revisitar essas visões de mundo para tentar, em meio a toda pândega pandemia, descontaminar um tanto as nossas visões, que tendem (e isso é normal) em meio a tanta informação, a se tornarem turvas. Ou, ao menos, se refletir não servir à cura da pandemiopia, vale refletir para divertir brincando trocadilhos: é o que faço de minha quarentena hell or/and well, descobrindo, entre o intelectual e o trash, de mesmo espetáculo, que se não fosse Haloween III, eu jamais teria somado1984 a 2020 e #homehome.

Está Home home também?

Então outra dica: #homostupidusstupidus (Homo stupidus stupidus: l’agonia di una civiltà, livro de Vittorino Andreoli, psiquiatra, escritor e um investigador da alma humana)

E sobre o app 1984 2020, selecionei algumas fontes de notícia internacionais interessantes para se ler e pensar.

Não entende a língua? Um Google tradutor resolve…

Não é incrível? Chegamos a Guy Debord: posso até criticar a Sociedade do espetáculo mas, enquanto digito minha irônica perspectiva, não consigo deixar de pensar no quanto é irônica, de fato; uma vez que depende, em um nível muito mais sistêmico, sintático e semântico, algorítmico, do meu objeto de crítica. Que nem é mais objeto: passa a ser sujeito. Percebe? Não existe mais oposição, somos de um mesmo lado, e pensamos, ainda, sermos originais. E é isso que assusta… Pra cacete!

Enfim, um pouco de um eu aqui… pensando, em nossos personagens como autores, e como nossos autores são personagens…

Hell, well, well.. Pussy Jane ainda vai precisar falar sobre isso…