CHOVIA
CHOVIA EM CORES SOB O OLHAR DESATENTO DO SOL
QUE TUDO VÊ E NADA PODE
OU TUDO PODE E NADA VÊ
É A MESMA COISA…
CHOVIA
E O CÉU IMPUNHA UMA PAZ TÃO RARA…
EMPUNHANDO QUASE ARMA
SEU BATISMO DE ÁGUAS TURVAS
CHOVIA
E A VIDA NÃO PÔDE ESPERAR
NÃO POR ELA, DE SUA SEMPRE PRESSA
NÃO POR ELA, QUE ERA SEMPRE PRESA
VÍTIMA DE SÓIS E LUAS,
QUE EM ESTAÇÃO ALGUMA PARAVAM DE NASCER-MORRER
CHOVIA
E O DIA ERA TÃO TRISTE
TÃO EM CORES E TÃO GRITANTE
QUE A VIDA NÃO PÔDE ESPERAR
NÃO POR ELA, QUE ERA TÃO CINZA
E NÃO TINHA ASAS
E JAMAIS ALCANÇARIA OS PRÓPRIOS SONHOS
TÃO ALI… ENTRELAÇADOS NA CABEÇA, TECIDOS UM A UM
TÀO ALI, QUE ELA QUASE PÔDE TOCÁ-LOS
TÃO ALI… TÃO ALTO…
PARA ELA, QUE NUNCA TEVE ASAS
E CHOVIA
E ERA UM DIA COMUM
COMO QUALQUER OUTRO QUE VEIO E VIRÁ,
DE PULSOS E PAUSAS
E FALTAS DE PUNHOS
E PULSOS E PAUSAS
E CORAÇÕES
E CHOVIA…
EM CORAÇÃO E SANGUE,
QUE PODIAM-SE MORTE OU POEMA
E CHOVIA
TÃO FLUIDO E CORRENTE
QUANTO A VIDA
TÃO FLUXO E COERENTE
QUANTO A MORTE
TÃO VULTO E DESCASO
QUANTO A SORTE
TÃO ABRUPTO E TEMPESTADE
QUANTO CORTE
E CHOVIA…
E AS NUVENS CARREGARAM-SE TAL ALMA E DISPARAVAM-SE MUNIDAS,
ARMAS LETAIS À IMPACIÊNCIA CRÔNICA DAS CORES VIVAS QUE ELA NÃO VIA
MAS HAVIA,
QUE CHOVIA EM CORES
INUNDANDO-LHE O ESPÍRITO SEM TRÉGUA, INCANSÁVEL
COMO O SOL QUE TUDO PODE E NADA VÊ
OU TUDO VÊ E NADA PODE
O SOL QUE NASCE E MORRE TODO DIA-NOITE
O SOL QUE ELA ESQUECIA NAS ESCURIDÕES,
MAS QUE SABIA, JAMAIS FECHAVA OS OLHOS
CHOVIA…
E A TERRA GIRAVA CORES
TAL SUA GUERRA CINZA DE CALAR ALMA USANDO-A, ELA PRÓPRIA,
ARMA APONTADA NA CABEÇA
A MESMA ALMA QUE GUARDAVA-LHE OS SONHOS TÃO ALTOS
A MESMA ARMA, GUARDANDO-LHE OS SONHOS, TÃO ALTOS
A MESMA ARMA,
A PRÓPRIA ALMA
E CHOVIA
E ELA SÓ PODIA PENSAR EM DESCARREGAR-SE DOS SENTIDOS
E DAS FALTAS DE SENTIDO
ELA, QUE TIVERA ASAS…
E NUNCA AS TERIA
ELA, QUE TEMIA A CHUVA E OS SÓIS
E A VIDA E A MORTE
E A MORTE EM VIDA
ELA QUE TEMIA,
ELA CINZA, CHOVIA EM CORES
ELA QUE NUNCA CHORAVA
NÃO AMAVA OU ODIAVA
ELA QUE SÓ TINHA SONHOS
ELA ALI.. TÃO ALTO
TÃO SALTO
TÃO PÉS NO CHÃO
E CHOVIA,
EM ASSALTO A SUA TODA VONTADE DE ASAS
ELA QUE JAMAIS TERIA ASAS E GUARDAVA OS SONHOS TÃO CÉUS ACIMA
TÃO JUNTO AO SOL, QUE TUDO VIA E NADA PODIA
ELA QUE QUASE QUEIMAVA
ELA, QUE ERA CINZA…
E CHOVIA
E NEM SÓIS OU NUVENS ARMADAS PUDERAM DETÊ-LA
ELA, QUE NÃO ERA OBRIGADA A NADA
ELA QUE ERA VULTO, QUIS-SE DE VOLTA
ELA QUE ERA CINZA,
EMBRIAGOU-SE DE COR
SOB O OLHAR DESATENTO DO SOL E SÓIS,
QUE VIRIAM E SE FORAM,
SÓIS QUE NASCIAM E MORRIAM TODO DIA
SÓIS QUE ERA SÓS
E SÓIS QUE ERA ÚNICOS
ELA, QUE NASCIA MORRIA TODO DIA
ELA QUE NÃO CHORAVA OU AMAVA
E ERA CINZA
ELA… SANGROU
COM A CHUVA APONTADA À CABEÇA,
EMBRIAGANDO TODOS OS SONHOS, QUE ELA, QUE NÃO TINHA ASAS
JAMAIS ALCANÇARIA
CHOVIA,
E ELA QUE NÃO TINHA ASAS, SALTOU
SOB O OLHAR DESATENTO DO SOL, QUE SURPREENDEU-SE
SOB O FIRMAMENTO DESALENTO DO CÉU,
QUE SECOU DE SÚBITO SUA CHUVA COLORIDA, EM DOR
ELA QUE ERA CINZA, TEVE ASAS
ELA QUE ERA CINZA, VOOU
AS NUVENS ARMADAS NA CABEÇA,
DESCARREGANDO TODOS OS SONHOS
ELA, QUASE UM ANJO,
TOCOU O CHÃO DE SEU DESTINO
ELA, QUASE UM ANJO… ERA CINZAS
E CHOVIA
E O FIRMAMENTO CALOU SEU PRANTO TEMPESTADE
E OS SONHOS DELA, ELA QUE NEM TINHA ASAS,
OS SONHOS ÓRFÃOS PLANTARAM-SE NO CHÃO
E CHOVIA E NÃO CHOVIA
ASSIM COMO VIDA É MORTE
MORTE EM VIDA
E FINS SÃO SEMENTES
OS SONHOS EM CINZAS, COLORIDOS, MAS DESISTENTES,
SEMEARAM UM TODO CAMPO
E ASSIM COMO O SOL QUE NASCE MORRE TODO DIA
ELA CINZA, ELA QUE NEM TEVE ASAS
ELA, QUE DESAPRENDEU DE VOAR,
COLORIU VERDE ÁGUA QUE NÃO TINHA,
A TERRA QUE NÃO PARAVA DE GIRAR
E CHOVIA,
E CHOVERIA,
SOB O OLHAR DESATENTO DO SOL
E O SOL QUE TUDO PODE E NADA VÊ
OU TUDO VÊ E NADA PODE
ELA, QUE SEMPRE FOI CINZA,
ELA QUE SEMPRE SONHOU,
ELA SEM ASAS,
DESARMOU SEUS SONHOS ASSIM, EM COR
IN MEMORIAN…