Às preces peço as pressas, que preguem-me as peças e me desconstrua os dias. Rápido, vulcão! Não posso a espera. Não passo, não ando, não encontro o caminho alternativa.
Rezo para que vire-me a vida cabeça abaixo; para que eu ande pisando nuvens e despreocupe se a realidade arrasta-me miolos no chão.
É muito o que peço? Quase-quase é nada. Alguém, em sã consciência, já rezou para ter a vida esburacada, atirada aos ímpetos de futuro incerteza? E o que quero é ainda menos: é presente incerto de desinventar qualquer segurança. Descabeçar idéias construídas, sujar o couro de novas raízes. Virar cabeça abaixo; plantar-me um outro, um bem-vindo desconhecido. Pés andando céus e essas minhas estradas de mundo. Imundo de mim, sem satisfações, prestadas ou emprestadas; quero só as minhas, só aquelas que possa autenticar. É muito o que peço? De modo algum! É quase nada.
Qual o preço?
Que dessa toda vontade, não haja o que me impeça. Que despeça-se o ódio de ser guiado a correntes; que corra-se longe, o lugar comum. Que brilhe-me a falta de diretriz, aquela coordenada mesquinha que aprisiona novos rumos e os impede de abraçarem-me.
Brilhe-me à larga escala, os horizontes imprevisíveis, não mensuráveis, não miseráveis. Horizontes tais que a mediocridade horizontal não alcança. Quero pressas, furacões e revoadas: largar as línguas que me calam o impossível. Cuspo fora o im. Ouch! Escarro o restolho da improbabilidade e da importância. In? Out!
Amo a sina dos culpados por serem do dom de si. Amo-lhes a musicalidade, os pés nas nuvens, os miolos derramados no chão. Como são fortes em sua leveza não segura… Flutuam, quase sem corpo, quase só alma… Liberdades…
Então não peço absolutamente nada do que não me seja marca nascença: liberdades. A mesma dos pés récem nascidos, suspensos, ponta cabeça: o choro de primeiro respiro. Peço não, nascer de novo: passos virados às nuvens, miolos esparramados no chão. Peço não; exijo o meu pedaço do imprevisível. Não peço nada: essa vontade, à vontade, só essa vontade já me faz .
Satisfaz o rir à toa, o torto e o direito, os pulmões e os ares. Inspiro desse mal, que me é todo bem; desse mal de querer-me indevido.
Não é assim que julgam, os caçadores de prazer? Indevidos? Desimporta-me, quero-me desse mais puro, desse dom de existir somente meus preceitos; chamem como quiserem… Indevido, duvidoso, em desastre… Chamem-me o nome que alcançarem as línguas comuns.
Por Indivíduo é que respondo, em maiúsculo, em memória, em desagrado… Indivíduo é como quero que me guardem, aguardem ou nem percam seu tempo. Indivíduo não é o que peço; é o que posso. Pelo único que me passo. Passo e passo. Que me passa pela cabeça virada de avessos, miolos derramados e pés de nuvens.
Apressam-se meus passos, a “posso” e posse. Não é prece, é “apresse-se”, é ” corra “ ou morra. Indivíduo, indevido, não duvido: o único in que cabe justo. Então nem mais peço, sou prece, assim passo e passo, posso e posso. Sou e soul…